Imagine a seguinte situação. Duas mulheres, de mesma idade, casadas, com dois filhos também de mesma idade, têm o mesmo objetivo de investimento: aplicar as suas reservas para aposentadoria. As duas esperam se aposentar com a mesma idade. Será que elas investirão exatamente da mesma maneira?

A resposta é não. Na verdade, diferentes pessoas, ainda que com os mesmos objetivos e horizonte de tempo, não necessariamente irão optar pelas mesmas classes de ativos ao tomar a sua decisão de investimento. E isso acontece porque cada investidor tem um perfil de risco diferente do outro.

Na prática, há pessoas mais avessas ao risco, que talvez não se sintam confortáveis em aplicar parcela significativa de seu patrimônio em ativos arriscados. Por outro lado, há investidores mais propensos ao risco, que aceitariam assumir uma carteira de investimentos mais arriscada.

Esse perfil precisa ser respeitado no momento da tomada de decisão de investimentos. Cada investidor, portanto, precisa compreender adequadamente o seu perfil.

Para ajudar nessa missão, é interessante caracterizar o seu perfil de investidor em duas dimensões complementares: uma objetiva, relacionada à capacidade de cada pessoa ou família em assumir riscos nos investimentos; e outra subjetiva, que diz respeito à disposição do investidor em assumir riscos. Com isso em mente, e com a ajuda de algumas ferramentas, é possível caracterizar o perfil de risco, para que, junto com a definição dos objetivos a tomada de decisão de investimentos seja mais consciente e planejada.

A capacidade em assumir risco está relacionada ao momento de vida do investidor e ao seu patrimônio acumulado. Ora, é fácil perceber que um investidor que está investindo R$ 1.000,00 de um patrimônio total de R$ 100.000,00 tem muito mais capacidade em assumir riscos sobre esses R$ 1.000,00 quando comparado a outro investidor que tenha acumulado apenas os R$ 1.000,00. No primeiro caso, o investimento representa 1% do patrimônio, ao passo que no segundo, 100%.

Portanto, quanto mais significativo for o valor investido em relação ao patrimônio total da pessoa, menor a sua capacidade em assumir riscos, e mais cuidado ele deverá ter antes de assumir riscos no mercado.

De outra forma, pode-se imaginar também que um indivíduo jovem, ainda com uma longa vida de trabalho pela frente, tenha mais capacidade em assumir riscos do que um senhor aposentado, simplesmente porque o primeiro teria tempo suficiente para recuperar eventuais perdas. Uma família que já tenha conquistado alguns objetivos de vida, como a compra da casa própria, os estudos dos filhos etc. pode ter mais capacidade em assumir riscos que outra que ainda busca alcançar tais sonhos. E assim por diante. Cabe a cada um perceber o seu momento de vida, para identificar até que ponto pode ir quando se fala em assumir riscos sobre um investimento.

A disposição ou propensão em assumir riscos está mais relacionada a aspectos psicológicos, e é inerente à personalidade de cada indivíduo. Diz respeito a como cada pessoa se sente em relação ao risco. Ainda que duas pessoas tenham a mesma capacidade em assumir riscos, a decisão de investimentos pode ser diferente devido a diferenças na maneira com que cada uma enxerga e encara o mundo dos investimentos.

Aqueles mais avessos ao risco possivelmente optarão por alocar parcela maior de seu patrimônio em investimentos mais conversadores, enquanto os mais propensos ao risco não se importarão em arriscar parcela maior de seus investimentos, se fizer sentido, e quando o objetivo assim permitir.

Na prática, a propensão ao risco dos investidores costuma ser classificada em três diferentes grupos:

Conservador - privilegia a segurança e faz todo o possível para diminuir o risco de perdas, para isso aceitando até uma rentabilidade menor.

Moderado - procura um equilíbrio entre segurança e rentabilidade e está disposto a correr um certo risco para que o seu dinheiro renda um pouco mais do que as aplicações mais seguras.

Arrojado - privilegia a rentabilidade e é capaz de correr riscos mais altos na busca por uma rentabilidade ainda maior.

 

A questão agora é: como saber a que grupo pertenço?

 

Descobrir seu perfil irá ajudá-lo na escolha do investimento mais adequado. Então, mãos à obra. Há diferentes maneiras de refletir a respeito.

O próprio histórico em relação à vida financeira diz muito sobre o perfil de investidor. Por exemplo, pessoas que privilegiam trabalhos mais seguros, estáveis e com renda fixa, tendem a ser mais avessas ao risco nos investimentos que outras que aceitam trabalhos com renda variável, ou que têm por hábito empreender, arriscar em negócios etc.

As decisões de investimentos passadas também podem ser um indicador. Mas isso não é uma regra.

Há métodos mais objetivos no mercado, que ajudam o investidor a identificar o seu perfil, como é o caso dos formulários de análise do perfil do investidor, conhecidos como API. Para oferecer alguns investimentos no mercado financeiro, as instituições financeiras precisam solicitar ao cliente que preencha esse formulário, em que é preciso responder a questões relacionadas ao patrimônio, objetivos e perfil, para, com base nas respostas, enquadrar o cliente em uma das categorias de perfil de risco citadas. Essa classificação é que determinará quais produtos de investimentos poderão ser ofertados a cada investidor.

Embora seja uma ferramenta muito útil, é importante que essa informação seja utilizada como orientação (e não como verdade absoluta), e que o investidor seja sincero nas respostas, para que o resultado represente de fato o seu perfil. Cabe sempre ao investidor a decisão final.

 

A ideia de que os produtos de investimentos devem estar adequados ao perfil de risco e aos objetivos de cada investidor é conhecida no mercado pelo termo em inglês Suitability.

Para entender mais sobre o processo de suitability e o papel das instituições e dos investidores, sugerimos a leitura deste artigo